Há
40 anos, Copenhaga estava tão atulhada de carros como qualquer outra cidade, mas
hoje 36% da população chega ao trabalho ou à escola de bicicleta, vinda de toda
a área metropolitana. 50% dos copenhaguenses utilizam a bicicleta todos os
dias. Para tal, dispõem de mais de 1.000 km de faixas para bicicletas (bike
lanes) para as suas deslocações. Copenhaganizar é possível em qualquer parte.
Mas se os benefícios da utilização da
bicicleta como meio de transporte são comummente aceites - sejam eles económicos,
de saúde, ambientais ou de mobilidade – já as formas de promover a sua
utilização nem sempre geram consenso entre os especialistas.
Deverão os gestores e planeadores
urbanísticos fornecer faixas ou pistas para bicicletas como forma de estimular
a “procura”? E terá a mera disponibilização dessas infraestruturas cicláveis um
impacto significativo no número de utilizadores de bicicleta? Ou deverão os
decisores aguardar por uma manifestação expressiva da procura dessas infraestruturas
cicláveis por parte da população e só então reagir?
O problema, político e de eficiência dos
recursos, não é de pequena monta: nenhum munícipe gostará de ver os seus
impostos gastos em bike lanes ou vias
cicláveis onde não passem bicicletas…
A este respeito foi publicado, em Julho de
2011, na Springer Online[1],
um estudo muito interessante sobre a influência das vias cicláveis no número de
utilizadores de bicicleta urbanos (bike
commuters). O estudo envolveu dados de 90 das 100 maiores cidades
norte-americanas.
Os investigadores demonstraram que cidades
com maior oferta de vias para bicicletas têm taxas de utilização da bicicleta
significativamente maiores. Naturalmente, também outras variáveis como a segurança
dos ciclistas, a percentagem de estudantes na população, o preço do combustível
ou a concentração urbana influenciam a taxa de bike commuters, mas mesmo quando tais variáveis são tidas em conta
no modelo a oferta de vias cicláveis mantém a sua significância.
Mais, concluíram ainda que variáveis como a
oferta de transportes públicos ou o clima (dias muito quentes, muito frios ou
com muita chuva) não eram estatisticamente significativas na explicação do
número de ciclistas urbanos!
Enquanto estas linhas estavam a ser
cozinhadas, o Diário de Viseu de 27 de Março noticiou que a nossa Câmara vai
criar vias cicláveis entre o centro histórico, o Instituto Politécnico, a
Universidade Católica, a Escola Superior de Saúde, o Hospital e o Fontelo.
O presente texto, que então terminava com
um repto ao poder local para a criação de tais vias, encerra agora com parabéns,
votos de sucesso e de alargamento do projecto (escolas secundárias,
circunvalação?)!
Cabe-nos agora a nós, viseenses, mostrar
que este é o caminho certo, utilizando a bicicleta nas nossas deslocações na
cidade. Porque o maior obstáculo é o preconceito e não o desnível.
[1] R. Buehler e J. Pucher, Cycling to work in 90 large American cities:
new evidence on the role of bike paths and lanes, Springer
Science+Business, publicado online. O pdf do artigo pode
ser obtido em http://policy.rutgers.edu/faculty/pucher/bikepaths.pdf.
Sem comentários:
Enviar um comentário